Toca
o telefone.
-
Filho, sabe quem eu encontrei na rua?
-
Não.
-
Roberval.
-
Quem é Roberval, mãe?
-
Aquele teu amigo que fez natação contigo.
-
Putz, mãe, não lembro.
-
Como não? Aquele que era teu amigão. Vocês viviam juntos. Um loirinho, que a
irmã fazia balé.
-
Ahh... Sei. Legal.
-
Ele vai ser pai.
-
Legal...
-
De novo. É o segundo já. Teve uma menina; agora, parece que é um menino. Vai
ficar com um casalzinho.
-
Legal...
-
E você?
-
Eu? To bem...
-
Não tem nenhuma novidade pra me contar, não?
-
O chuveiro queimou. Tem que trocar a resistência. Sabe se o pai entende disso?
-
Você sabe que eu quero ser avó, não sabe?
-
Também quero tanta coisa, mãe. Mas a senhora me ensinou que a gente não pode
ter tudo nessa vida.
-
Lá vem você com esse papo. Olha, eu quero um neto.
-
Você já tem dois.
-
Aqueles são da tua irmã, quero um da tua parte.
-
Aí, já é mais difícil.
-
Por quê?
-
Primeiro, porque eu não quero.
-
Que não quer o quê?! Não sabe o que está falando. Tua mulher vai te dar um pé
na bunda.
-
Ela também não quer.
-
Hahaha... Tá bom... Isso é o que ela diz. TODA mulher quer ser mãe.
-
Mãe, eu não sei nem trocar a resistência de um chuveiro. Como posso criar uma
criança?
-
Mais um motivo pra ela te largar. Não dá um filho pra ela, não troca a
resistência do chuveiro...
-
Mãe, tenho que voltar ao trabalho. Se não, além de não ter vontade, vai faltar
a grana.
-
Mas, primeiro, me responde: quando vou ter um neto?
-
Mãe, por favor...
-
Ela vai te largar. Escuta o que eu to te dizendo. Ela diz que não quer pra não
discordar de você.
-
Tá bom. Então, se ela mudar de ideia, a gente tem.
-
Sabia que o problema era ela! Você sempre quis ter filho. Desde a época que brincava
com o Roberval.
-
Nem lembro desse cara, mãe.
-
Não muda de assunto.
-
Olha, mãe, tão ligando aqui.
-
Não acredito que vou morrer sem ter um neto. Sem ver a tua carinha de bebê de novo.
Você era tão lindo, meu filho. Aquela bochechinha... Tá aí ainda?
-
To.
-
Mas, ela vai mudar de ideia, viu?! Tenho certeza. O problema é que ela já tá
chegando nos 30, né?!
-
Não tem problema. Se for o caso, a gente adota.
-
O quê? Adota? Por que isso?
-
Por que o quê?
-
Por que adotar se vocês podem ter um de vocês?
-
Mas, o adotivo também vai ser nosso.
-
Mas, meu filho... Você tem que deixar suas raízes.
-
Que papo é esse de raízes, agora?
-
Pensa que um filho teu vai ser igualzinho a você.
-
Baixinho, com asma, rinite e miopia?
-
Eu fiz o melhor que pude. Bom, quem sou eu pra ficar me metendo na vida de
vocês? Vou deixar que vocês resolvam isso sozinhos. Mas, por favor, eu quero um
neto.
-
Tá bom, tá anotado aqui o teu pedido.
-
Vou colocar na agenda o telefone do Roberval. Fiquei de fazer um casaquinho
para o menino dele. Vê se liga pra ele, meu filho. A gente não pode se desfazer
das nossas amizades assim.
-
Tá bom, mãe, eu ligo.
-
Beijo, meu filho.
-
Mãe...
-
Oi?
-
Será que o Roberval sabe trocar resistência de chuveiro?
3 comentários:
Genial! Rindo muito da sin alheia, embora a minha seja igualzinha - só mudam os temas, mas a ladainha é a mesma.
Putz, ouvi um papo bem similar a esse aqui, ainda nessa semana... conheço bem esse sentimento...
Adota.
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