quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um ano

Acabo de me dar conta de que, segunda-feira, fez um ano que coloquei a primeira crônica neste espaço.

No dia 9 de agosto de 2009, entrei para o maravilhoso mundo dos blogs pedindo desculpa pelo atraso, já que eu começava com um blog muito tempo depois que a maioria dos colegas, que já estavam entrando em outra onda: a do Twitter. Achei aquilo demoníaco, mensagens de 140 caracteres, “estou tweetando”, “vou retweetar”...

Hoje, um ano depois, atrasado novamente, acabo de me cadastrar no tal serviço de mensagens instantâneas de até 140 caracteres. Peço paciência porque ainda estou aprendendo como funciona esse negócio de seguir alguém, ser seguido, como responde, pra onde vai a resposta, essas coisas.

Na pior das hipóteses, se faltar criatividade, anuncio lá que postei a crônica da semana e digo do que ela se trata.

Então, quem quiser me seguir, estou lá: www.twitter.com/_maykonsouza

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Apita, Juiz

Num domingo desses, fui ver uma partida da quarta divisão do Campeonato Paulista. Quarta! São Vicente e Guarulhos.

Fiquei encostado no alambrado, atrás do gol do time adversário. Bem turma do amendoim mesmo. Tinha um senhor do meu lado, comentando uma jogada ou outra. Escanteio. Enquanto o atacante colocava a bola na marca e mirava na cabeça de algum companheiro, vimos o juiz se aproximar. O senhor não pensou duas vezes: “Ô, Juizão, vê se marca um pênalti pra gente aí”. O Juizão olhou na nossa direção e riu.

Na sequência, bola na área e... adivinhem... Pênalti!!! Aquele que ninguém entende muito bem, mas também não reclama. Incrível!

Olhei para aquele velhinho e o vi um lançar um “Obrigado” ao Juizão.

A cena me fez lembrar a primeira vez que fui ao estádio, aos 7, 8 anos, e me impressionei com as ordens que meu pai dava ao juiz.

Santos e Peñarol. Supercopa dos Campeões. “Apita, juiz”, e o juiz apitava. “Corre, juiz”, e o juiz corria. Incrível! Mas, mandar o juiz dar um pênalti, isso meu pai nunca conseguiu.

Só os jogos da quarta divisão mesmo têm dessas coisas. Vi situações estranhas para o futebol atual, como zagueiro batendo tiro-de-meta e mulher de jogador na arquibancada, no meio do povão, gritando “vai, amor!”. Todo mundo se sente mais perto do jogo. Do ‘espetáculo’.

Quando cheguei, recebi um papelzinho com um número. Era o sorteio de uma bola com a assinatura de Neymar, Robinho e Paulo Henrique Ganso, ídolos do Santos. Meu número era 305. Achei aquilo muito engraçado.

Em vez de dar um chutão na bola em direção à arquibancada, tinha um sorteio organizadinho. O vencedor tiraria foto com a musa do time, foto com o presidente, daria entrevista pra TV local.

Assistir a esses campeonatos que beiram o amadorismo é como ver o futebol de décadas atrás, quando as pessoas grudavam radinhos de pilha na orelha.

Por falar em rádio, entrei no estádio aos 10 minutos do primeiro tempo e só consegui escutar o pontapé inicial por uma emissora local. Não no radinho de pilha, claro. Pelo celular.

Aos cinco minutos, o narrador falava de um jogador que pedalou pra cima do zagueiro adversário e arriscou um chute fantástico. O barulho da torcida enlouquecida me deixou com medo.

Pelos gritos, o estádio estava com ‘gente saindo pelo ladrão’, para usar uma gíria do tempo daquele senhor que mandou o Juizão apitar o pênalti.

Ao chegar, vi uma arquibancada cheia de espaços vazios. E os que estavam lá não gritavam “Uuuuh”, “ahhhh” ou aplaudiam enlouquecidamente. O barulho da torcida era gravado. Tudo truque.

Mais decepcionante foi descobrir que até a pedalada que me emocionara minutos atrás também era truque. O jogador passou o pé em cima da bola e caiu, conforme me relatou o companheiro da turma do amendoim, que, por sinal, era muito bom de papo.

Muito empolgado, ele contou toda a trajetória do time no campeonato, falou da carreira de todos os craques do escrete vicentino e só foi interrompido por uma voz no auto-falante: “E a bola vai para o número 305!”.

Pois é, ganhei a bola, tirei foto com a musa, apertei a mão do presidente. Essa diversão toda em plena manhã de domingo.

Se a minha primeira experiência com estádio tivesse sido em um jogo do São Vicente, com direito à bola autografada, e não na Vila Belmiro, talvez, eu nem fosse santista hoje. Mas, certamente, teria uma visão bem mais divertida do futebol. E, quem sabe, até conseguisse dar umas ordens ao Juizão, de vez em quando.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Deseja falar com quem?!

Instalaram um telefone fixo aqui em casa. Ligamos, pedimos, e duas semanas depois, estava tudo resolvido. Seria mais rápido, se o atendimento fosse melhor e mais eficiente.

Mas, mesmo com os “estarei verificando” e “estaremos instalando” das dezenas de atendentes que estiveram cruzando o nosso caminho, a coisa foi bem mais simples do que na época do meu primeiro telefone fixo, no final da década de 80. Eu devia ter uns cinco, seis anos. Lembro da emoção da minha mãe.

Depois de enfrentar um disputadíssimo plano de expansão da Telesp, que concedia a pouquíssimos felizardos o benefício de ter um telefone em casa, o sonho dela se realizaria.

Custaria uma fortuna. Não sei ao certo, mas imagino que, se fosse hoje, esse felizardo deixaria mais ou menos uns cinco mil reais nos cofres da Telesp para ostentar o aparelho no canto mais nobre da casa.

Era tão caro e difícil ter uma linha que muita gente investia nisso. Comprava várias e alugava. Dá pra imaginar isso? Você, aí com seu celular com dois, três ou mais chips, seu IPhone, lembra ou, se é mais novo, consegue imaginar uma firma (firma!) que alugava linhas telefônicas? Pois, existia.

Lembro do dia em que os técnicos da Telesp chegaram em casa para instalar o aparelho. Vermelho, de disco. Quem tem menos de 20 anos, talvez não consiga entender como era um aparelho de disco.

Aquele negócio redondo no lugar das teclas. Você tinha que colocar força no dedo e girar até o fim. Ninguém gostava de ligar pra um número cheio de noves. Terrível. O pulso doía. Sorte das operadoras de telemarketing, que não existiam naquela época.

Quando os técnicos se foram, ficamos lá, eu e minha irmã, encarando o novo membro da família, sem saber ao certo o que deveríamos fazer.

Fomos procurar o número do trabalho da minha mãe para anunciar a boa nova e interrompemos nossas buscas quando, como num passe de mágicas, ouvimos um “triiiiiiim” escandaloso.

Acho que foi a primeira vez que ouvi esse toque. Ansiedade... Na qualidade de irmã mais velha, ela atendeu.

“ALÔ...”, talvez esperando alguma amiga, o namorado...

Mas, foi murchando até que ouvi ela dizer: “não é daqui, não, moço. É engano”. Nossa primeira decepção telefônica.

Na época, ouvi algumas recomendações. Ganhei uma agendinha de bolso para anotar o número dos coleguinhas da escola e aprendi que nunca, jamais, em hipótese alguma, deveríamos dar nossos nomes enquanto não sabíamos quem estava do outro lado da linha.

Se alguém viesse com um invasivo “quem fala?” perguntaríamos ao nosso interlocutor: “deseja falar com quem?”.

Hoje, vinte anos depois, mesmo com tanta tecnologia, tantos celulares, ainda penso “agora sim, isso é uma casa de verdade”, ao terminar a instalação do fixo.

Preto. Teclas no lugar do disco. Sem fio.

O maior entre seis aparelhos colocados sobre a mesa da sala. Cinco celulares pequeninos e ele, o patinho feio. Sem contar a infinidade de chips, cada um com seu número, que andam espalhados pela casa, ávidos por aproveitar a próxima promoção das operadoras.

Acho que essa geração dos 30 anos (ainda assim, somente alguns de seus representantes, como eu) é a última que ainda sente alguma segurança com o telefone fixo.

Hoje, vinte anos depois, mesmo com tanta tecnologia, tantos celulares, senti a mesma ansiedade que tive quando encarava o telefone vermelho com a minha irmã, no final dos anos 80.

Agora, deixo-o estrategicamente ao lado do computador. Não vejo a hora de ouvir seu bom e velho “Triiiiiiiiim” para dizer: “Alô... Deseja falar com quem?”. Torcendo para não ser nenhuma operadora de telemarketing e, principalmente, não ser engano.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A maníaca e a devassa

Primeiro dia de férias.

Ligo a TV e resolvo zapear canais nunca dantes zapeados. Desenho, futebol, rugbi, uma novela árabe, seriados, Super Nany... são tantas opções...

Paro numa propaganda. É um canal só de propagandas. Pois é, isso existe! Uma mulher com cara, cabelo, e roupa dos anos 80, segura uma mangueira (calma, era só um canal de propagandas) e joga água em tudo quanto é lugar.

Veste um daqueles shorts que começam uns três dedos acima do umbigo. Parece personagem de seriado americano de vinte anos atrás. SOS Malibu, Baywatch, essas coisas que faziam a alegria dos meninos em plena revolução hormonal, no período pré-Malhação.

Em câmera lenta, sorrindo, em close, de tudo quanto é jeito, a mulher dos anos 80 vai lavando tudo o que vê pela frente. Lava um carro, lava uma escadaria, lava paredes, lava chão, lava crianças... Quase uma maníaca da mangueira.

A propaganda não acaba. O locutor repete as informações. Diz que a força do jato permite uma lavagem mais eficiente. A pressão da água é maior.

As imagens também se repetem. A mulher de shortinho, em câmera lenta, lava novamente o carro, o chão, a parede, a escadaria.

Só pra gravar a propaganda, eles devem ter gastado o equivalente a seis meses de banhos meus. E olha que meus banhos demoram. Desde a época em que comecei a assistir SOS Malibu.

Acompanhando os movimentos ensaiadinhos da maníaca, lembrei, quase instantaneamente, do comercial da cerveja Devassa que foi retirado do ar há um mês, acho. Por que mesmo? Dava mal exemplo? E esse comercial da maníaca da mangueira desperdiçando a água do mundo inteiro em uma só propaganda? Não seria também um mal exemplo? Não deveria ser retirado do ar?

O comercial não acaba. Dois, cinco, dez minutos no ar! Água, água e mais água... Desse jeito não vai sobrar nem pra fazer a cerveja da Paris Hilton.

Sei lá o que houve. Primeiro dia de férias, bateu uma enorme consciência ambiental. Resolvo que vou implicar com a vizinha lavando a janela com mangueira, reciclar o lixo do prédio todo, abraçar árvores e denunciar o petshoop da rua do lado pro Ibama.

Desisto de esperar o fim da propaganda. Não vai acabar nunca. Aponto o controle remoto pra TV e, antes de ver sumir a mulher que lava uma vez mais a escadaria em câmera lenta, escuto a voz da Paris Hilton sussurando de mansinho “Divássa”, como na propaganda proibida.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Pena que não existe mais...

Na padaria, quarta-feira de cinzas. Dois conhecidos se reconhecem:

- Fulano?!

- Beltrano!

- E aí, como foi de carnaval?

- Ah, não ligo pra essas coisas...

- Sabe que eu também não?! Pra mim, é muita bobeira esse alvoroço todo. É sempre igual: Globeleza, desfile na TV, briga na apuração, essa bagunça na rua.

- Cê viu só que deu briga na apuração ontem novamente? Foi com aquela escola que fez mágica na pista?!

- Não, essa aí foi do Rio. A Unidos da Tijuca. A da confusão foi a Gaviões..

- Tá por dentro, hein?!

- A mulher vê. Aí, vejo também. Mas, não gosto, não.

- Rapaz, por falar em encrenca, você viu a confusão que aconteceu naquele bloco que passa na rua da prefeitura?

- Aconteceu do meu lado. Quase sobra pra mim. Tava com a minha esposa. Ela queria dar uma olhada na bagunça. Sabe como é, não podia negar.

- Sei, sim. Também acabei levando meu menino pra ver algumas dessas bandas antigas, sabe?!... aquelas que só tocam marchinhas. Tem um monte dessas. É bom pra ele aprender o que era carnaval bom. Coisa boa era na nossa época. Pena que não existe mais.

- Pois é... Não existe mesmo.

- Vou te contar uma teoria minha...

- Hum...

- Pra mim, tem três coisas que já acabaram há muito tempo e as pessoas não perceberam...

- Quais?

- Carnaval, natal e futebol.

- Verdade. Natal, então, nem se fala. Não tem mais aquela emoção toda que tinha quando a gente era criança.

- E não é porque a gente deixou de ser criança, não.

- Não... Claro que não. De jeito nenhum. Nem as crianças de hoje em dia ligam pra isso. Criança, hoje, não sabe nem o que é Papai Noel.

- Não mesmo. E esse negócio de encher as casas de luzinhas? No meu prédio, todas as janelas ficam enfeitadas, aquele clarão imenso. Papai Noel subindo em tudo que é apartamento, mas se você olhar no meu vai ver que não coloco absolutamente nada. Aquele clarão no prédio todo. Na minha janela, tudo preto... Protesto. Parece que não avisaram pra eles que o natal é coisa que não existe mais.

- E o futebol?!

- Palhaçada. Acabou também.

- Acabou mesmo.

Pequeno silêncio entre os dois. Observam atentamente a duas propagandas na TV da padaria. Uma anunciando o jogo do Corinthians e outra, a apuração das escolas de samba do Rio de Janeiro.... Depois de um tempo:

- Robinho joga amanhã?

- Claro... Não pode deixar de fora. Que coisa linda esse time do Santos, hein?!

- Pois é. Você sabe que sou palmerense roxo. Era, né. Isso na época que o futebol ainda existia. Quando os jogadores ainda torciam pelos clubes. Mas, esse time do Santos tá bonito de ver jogar.

- Bom, vou indo... quero ver essa novela das oito.

- Também to indo. Deve estar começando.

- Aliás, que porcaria de novela, hein?! E essa Luciana volta a andar ou não volta?

- Li numa revista, ali na banca, que vai ter até filho.

- Nossa. Esses caras inventam cada coisa.

- A gente se vê. Vamos combinar de ir no estádio qualquer dia desses.

- Vamos, sim... ô, anota aí...

- O quê?

- Novela...

- O que é que tem?

- Novela das 8 foi outra coisa que acabou, põe aí na tua lista.

- Boa... Anotado!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um olho no peixe e outro na bomba

Compramos um peixe, há mais ou menos três meses. Vermelho. Eu que escolhi, acho que porque parecia com o Nemo, do filme.

Acredito que o peixe seja um estágio que antecede a fase do cachorro. Os recém-casados obedecem a essas fases: lua de mel – cachorro – filhos.

No nosso caso: lua de mel, peixe e, daqui a um tempo, cachorro... Ainda não pensamos em filhos. Pelo menos, não concretamente ou não ‘pra agora’, como se diz.

Mesmo sabendo que o peixe não pula, late, senta, pega o brinquedo ou diz papai e mamãe, nos apegamos ao constante abrir e fechar da boquinha dele.

Primeira madrugada do ano, a surpresa: a bomba de ar parou! Não sei por quanto tempo. O peixe estava lá, jogado sob uma concha no fundo do aquário. Morrer, não tinha morrido. Quando isso acontece, bóiam de barriga pra cima.

Balancei o aquário e ele abriu e fechou a boca. Entendi algo como “me ajuda”. Tive peixe quando garoto e lembro que assoprar a água do aquário com um canudo oxigena o bichinho. Foi o que fiz. Depois, segui, sem sucesso, em busca de uma bomba nova.

Primeiro de janeiro. Tudo fechado.

A única saída era assoprar o aquário até o dia seguinte. Foi o que fizemos. Armamos uma operação de guerra.

Festas de final de ano, casa cheia. Estávamos dormindo no apartamento da minha mãe, do outro lado da rua.

A operação consistia em levar o aquário conosco para que nos revezássemos até a manhã seguinte.

Quem nos visse carregando um aquário e assoprando um canudo em plena avenida principal da cidade, à meia-noite e pouco, acharia a cena um tanto inusitada.

Acomodamos o aquário ao lado da cama, quase como um berço, e nos revezamos.

Dávamos uma série de dez assopros e umas remexidas na água a cada uma hora. Logo, cada um conseguia dormir, no máximo, duas horas e lá vinha o alarme do celular.

Regra básica: não valia apertar o soneca.

Acorda, assopra dez vezes, remexe a água e dorme duas horas.

Acorda, assopra dez vezes, remexe a água e dorme duas horas.

E por aí vai.

Até sonhei com temas marinhos. A cada duas horas, Nemo, Pequena Sereia e Free Willy apareciam juntos, me perseguiam, assopravam o oceano e me derrubavam da cama.

Manhã do dia 2, levantamos cedo (pra um sábado). Corremos no pet shop mais próximo e voltamos com uma bomba novinha em folha.

Mas, lá estava ele, boiando com a barriga pra cima. O que teria acontecido? Teria alguém burlado as regras, apertado o soneca e deixado de assoprar a água? Seria ultrapassada a técnica do assopro? Teria ele se suicidado?

A constatação: tão preocupados em assoprar a água, esquecemos de dar a comida.

O episódio nos fez tomar uma importante decisão: vamos ficar na fase do peixinho mais alguns meses. Anos, talvez. É mais aconselhável. Para nós, para cachorros e crianças.


PS.: Os três últimos parágrafos não passam de ficção. O peixe passa bem e tenta se recuperar do trauma. Mas, é que se eu falasse a verdade, não tinha história essa semana.