Respeito quem diz que não
vai ficar perdendo tempo com esse bando de safados, mas, você que é candidato,
saiba que tem a minha audiência.
Em primeiro lugar, porque gosto
da tua coragem. Não é para qualquer um dar a cara à tapa e falar tanta coisa inteligente
na TV. As pessoas acabam tendo inveja.
Ainda ontem, vi um de
vocês dizendo que vai distribuir a renda do pré-sal. Governadores do país todo
estão quebrando o maior pau pra ver com quem fica a grana e um camarada de uma câmarazinha
de vereadores qualquer vai dar uma canetada e resolver tudo.
Olha que sacada genial!
Mas, sei que nem todos têm
essa capacidade de ter boas ideias com a mesma rapidez com que pensam em
falcatrua. Campanha criativa não é tarefa fácil.
Mas, fique tranquilo, caro candidato (caríssimo, aliás). Seus problemas acabaram. No manualzinho abaixo, específico para candidatos a vereador, vossa excelência pode abreviar seu calvário. É só seguir a fórmula e esperar pelo dia da posse.
NOME
A definição do nome de
campanha é um passo importantíssimo. Em primeiro lugar, esqueça o de batismo. Além
de ele não ter o apelo necessário para enfrentar o violento jogo das urnas, é
bom guardá-lo limpo para o caso de precisar fugir.
É preciso ter um lugar de
origem, com o qual se tenha alguma identificação. Você não pode ser
simplesmente Paulo, ou Rui, ou Fábio. Tem que ser Paulo, Rui ou Fábio de algum
lugar. De preferência, algum lugar popular. Farmácia, PS, lotação, banca, sacolão...
Atente também aos
diminutivos. Eles dão uma boa ajuda. Paulinho da Banca é bem melhor que Paulo
qualquer coisa. E o que dizer de Fabinho do Sacolão? Perfeito!
Esqueça essa coisa de que
o nome precisa passar respeito. Balela. Político precisava ser respeitado na
época do seu avô.
Ao escolher o nome, é
importante saber que ele deverá ser bom também para as rimas, instrumento
importantíssimo em qualquer campanha.
Portanto se você se chamar
Ernesto, que rima com honesto, ou Fabinho, que faz tudo direitinho,
considere-se com meio caminho andado.
Mas, falaremos desse
assunto mais pra frente.
PALAVRAS-CHAVE
É necessário anotar
algumas palavras-chave. Aquelas que vão guiar seus 15 segundos de discurso.
Como em uma receita de bolo, é importante escolhê-las corretamente, e salpica-las
no texto. Anote aí as principais:
- Social
- Comunidade
- Educação
- Saúde
- Oh, Glória!
Essa última é para o caso
de você ser um candidato evangélico.
Importante:
Se você for da situação,
não se esqueça das palavras “Continuidade”, “Crescimento”, “Confiança” e da mais
importante de todas: “Sustentabilidade”.
Se você for de oposição, não
pode deixar de fora o “Vergonha”, “Mudança”, “Desconfiança”, “inovação” e a mais
importante de todas: “Sustentabilidade”
O
DISCURSO
Depois de se apresentar – nada
do nome de batismo – lance um “você me conhece”. Provoca uma identificação e
fará a pessoa pensar em você. Talvez, seja o único momento em que consiga tal
proeza.
Em seguida, lance mão do lugar-comum
mais básico de todos: por mais saúde, educação e segurança. É o que todo mundo
quer. É como oferecer
banana ao macaco, churrasco a gaúcho ou, com todo respeito,
propina a vossa excelência. Tá certo, participação nos lucros, como preferir.
Se você for de oposição, dê
um jeito de encaixar, logo em seguida, um
“Do jeito que está, não pode continuar”.
Se for da situação, saia
com um “Precisamos seguir avançando”.
VISUAL
No vídeo, abuse de
movimentos, roupas e acessórios que identifiquem sua atividade principal. O
Fabinho do Sacolão, por exemplo, estaria com um saco plástico em uma das mãos e
algumas frutas na outra.
O discurso poderia ser
mais ou menos assim: “Vou mostrar que político não está tudo no mesmo saco. Não
sou um banana como a maioria e vou resolver todos os abacaxis dessa cidade. Contra
político ladrão, vote Fabinho Sacolão” – nesse caso, pode até suprimir o “do”.
Parece que Sacolão é seu sobrenome. Mais popular que isso, impossível.
Reserve os cinco segundos
finais de sua aparição para as...
...RIMAS
E TROCADILHOS
Ah, essa é uma das partes
mais deliciosas. Qualquer um pode tentar. Deve ser rima simples, boba até.
Exercite: pegue uma música do Luan Santana ou do
Michel Teló e veja como eles fazem.
Não invente de pagar
publicitário. É jogar dinheiro fora. Segundo o pessoal de Massachussetts, os
melhores trocadilhos e rimas vêm do filho ou sobrinho do candidato.
Mas, atenção: coloque, no
máximo, duas rimas a cada cinco segundos, sob o risco de seu discurso se
transformar num repente.
Dica final: mais do que
tudo, seja engraçado. Se você nos fizer rir, nosso voto será seu. Não é à toa que alguns dos últimos sucessos nas urnas contam
piadas ou são a própria piada, ainda que de mau gosto.