sábado, 15 de setembro de 2012

Manual do Candidato

Tenho que confessar uma coisa: gosto de assistir ao horário político.

Respeito quem diz que não vai ficar perdendo tempo com esse bando de safados, mas, você que é candidato, saiba que tem a minha audiência.

Em primeiro lugar, porque gosto da tua coragem. Não é para qualquer um dar a cara à tapa e falar tanta coisa inteligente na TV. As pessoas acabam tendo inveja.

Ainda ontem, vi um de vocês dizendo que vai distribuir a renda do pré-sal. Governadores do país todo estão quebrando o maior pau pra ver com quem fica a grana e um camarada de uma câmarazinha de vereadores qualquer vai dar uma canetada e resolver tudo.

Olha que sacada genial!

Mas, sei que nem todos têm essa capacidade de ter boas ideias com a mesma rapidez com que pensam em falcatrua. Campanha criativa não é tarefa fácil.

Mas, fique tranquilo, caro candidato (caríssimo, aliás). Seus problemas acabaram. No manualzinho abaixo, específico para candidatos a vereador, vossa excelência pode abreviar seu calvário. É só seguir a fórmula e esperar pelo dia da posse.

NOME
A definição do nome de campanha é um passo importantíssimo. Em primeiro lugar, esqueça o de batismo. Além de ele não ter o apelo necessário para enfrentar o violento jogo das urnas, é bom guardá-lo limpo para o caso de precisar fugir.

É preciso ter um lugar de origem, com o qual se tenha alguma identificação. Você não pode ser simplesmente Paulo, ou Rui, ou Fábio. Tem que ser Paulo, Rui ou Fábio de algum lugar. De preferência, algum lugar popular.  Farmácia, PS, lotação, banca, sacolão...

Atente também aos diminutivos. Eles dão uma boa ajuda. Paulinho da Banca é bem melhor que Paulo qualquer coisa. E o que dizer de Fabinho do Sacolão? Perfeito!

Esqueça essa coisa de que o nome precisa passar respeito. Balela. Político precisava ser respeitado na época do seu avô.

Ao escolher o nome, é importante saber que ele deverá ser bom também para as rimas, instrumento importantíssimo em qualquer campanha.

Portanto se você se chamar Ernesto, que rima com honesto, ou Fabinho, que faz tudo direitinho, considere-se com meio caminho andado.

Mas, falaremos desse assunto mais pra frente.

PALAVRAS-CHAVE
É necessário anotar algumas palavras-chave. Aquelas que vão guiar seus 15 segundos de discurso. Como em uma receita de bolo, é importante escolhê-las corretamente, e salpica-las no texto. Anote aí as principais:

- Social
- Comunidade
- Educação
- Saúde
- Oh, Glória!

Essa última é para o caso de você ser um candidato evangélico.

Importante:

Se você for da situação, não se esqueça das palavras “Continuidade”, “Crescimento”, “Confiança” e da mais importante de todas: “Sustentabilidade”.

Se você for de oposição, não pode deixar de fora o “Vergonha”, “Mudança”, “Desconfiança”, “inovação” e a mais importante de todas: “Sustentabilidade”

O DISCURSO
Depois de se apresentar – nada do nome de batismo – lance um “você me conhece”. Provoca uma identificação e fará a pessoa pensar em você. Talvez, seja o único momento em que consiga tal proeza.

Em seguida, lance mão do lugar-comum mais básico de todos: por mais saúde, educação e segurança. É o que todo mundo quer. É como oferecer banana ao macaco, churrasco a gaúcho ou, com todo respeito, propina a vossa excelência. Tá certo, participação nos lucros, como preferir.

Se você for de oposição, dê um jeito de encaixar, logo em seguida, um “Do jeito que está, não pode continuar”.

Se for da situação, saia com um “Precisamos seguir avançando”.

VISUAL
No vídeo, abuse de movimentos, roupas e acessórios que identifiquem sua atividade principal. O Fabinho do Sacolão, por exemplo, estaria com um saco plástico em uma das mãos e algumas frutas na outra.

O discurso poderia ser mais ou menos assim: “Vou mostrar que político não está tudo no mesmo saco. Não sou um banana como a maioria e vou resolver todos os abacaxis dessa cidade. Contra político ladrão, vote Fabinho Sacolão” – nesse caso, pode até suprimir o “do”. Parece que Sacolão é seu sobrenome. Mais popular que isso, impossível.

Reserve os cinco segundos finais de sua aparição para as...

...RIMAS E TROCADILHOS
Ah, essa é uma das partes mais deliciosas. Qualquer um pode tentar. Deve ser rima simples, boba até. Exercite: pegue uma música do Luan Santana ou do Michel Teló e veja como eles fazem.

Não invente de pagar publicitário. É jogar dinheiro fora. Segundo o pessoal de Massachussetts, os melhores trocadilhos e rimas vêm do filho ou sobrinho do candidato.  

Mas, atenção: coloque, no máximo, duas rimas a cada cinco segundos, sob o risco de seu discurso se transformar num repente.

Dica final: mais do que tudo, seja engraçado. Se você nos fizer rir, nosso voto será seu. Não é à toa que alguns dos últimos sucessos nas urnas contam piadas ou são a própria piada, ainda que de mau gosto.

2 comentários:

Plínio Nunes disse...

Parabéns. já ganhou meu voto no concurso comentário mais inteligente e criativo da internet nestas eleições. Abrs

Gustavo Henrique disse...

Repente exige muito do candidato. [rs.] O risco de transformar as rimas nisso é praticamente nulo. Não brinque fazendo trocadilho com essa arte.

Muito boa, a crônica.

Você reproduziu no texto a realidade, que é a própria caricatura, da publicidade eleitoral dos corajosos e, antes de tudo, bem informados candidatos a vereador, que, a depender exclusivamente de sua vontade, reúnem poderes que fogem até ao Executivo, tudo em prol do efeito de sua campanha e do sucesso nas urnas. Podem tudo com suas tais canetadas mágicas, inclusive redistribuir a renda do Pré-Sal, como você mesmo disse. [rs.]

O resto é besteira: é a ressaca da vitória, que dura infelizes quatros anos.