segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Dia do Desafio

Depois de assistir a três filmes do Woody Allen e ler a orelha de um livro do Freud, resolvi desafiar minha mãe.

Comecei pelos botões da camisa. Sempre ouvi dizer que deveriam ser abotoados de baixo para cima. Um por um. Se não fosse assim, não ficava direito.

Então, o desafio estava lançado.

Olhei bem para os lados para me certificar de que não seria interrompido.

Um a um, de cima para baixo e não mais de baixo para cima, conforme as instruções maternas.

Primeiro, o botão que fica perto do pescoço. Em seguida, o que fica logo abaixo.

E a cada botão fechado fora de ordem, desafiava as mais de duas décadas de dominação materna e imposição de um rígido controle na arte de abotoar uma camisa. Eu era um verdadeiro Che Guevara do vestuário fazendo a ‘Revolução dos Botões’.

Olhei para o espelho: estava tudo em ordem, no lugar. A camisa não estava torta, eu não estava torto!

E pensar em todo o tempo que segui à risca o ritual sem nunca questioná-lo. Mania estranha essa nossa de continuar fazendo as coisas como sempre foram feitas...

É o caso da famosa história do frango.

O cidadão nunca entendeu por que sua mãe, ao preparar um frango para a refeição, cortava suas asas antes de colocar no forno. Nunca procurou saber, apenas imitava.

Descobriu recentemente: o forno dela era pequeno, não cabia o frango inteiro. “Mas o meu forno é grande. Pra que, então, continuar cortando as asas do pobre animal?” questionou-se, quase em crise existencial.

Mas, voltando à minha saga revolucionária, decidi desmontar outras verdades absolutas de minha infância.

Foi quando chegou o momento de fazer careta e olhar para o vento. Fiz... Nada aconteceu.
Depois, jantei e tomei banho de barriga cheia. Não morri, nem entortei.

Fui ao supermercado sem pentear os cabelos e trouxe as compras sem sacolas.

Sai sem agasalho, esqueci (?) o guarda-chuva, fui ao shopping de boné, misturei cachaça com cerveja.

Exausto, dei-me por satisfeito. Agora, finalmente, havia acertado as contas com minha infância. Uma responsabilidade a menos.

Sei o que minha meia dúzia de leitores deve estar pensando...

E concordo.

Darei um tempo com os filmes do Woody Allen e queimarei as orelhas dos Fróides.

Fiquem tranquilos!

2 comentários:

Anônimo disse...

Pior é ser pai e rir por causa das mentiras disciplinárias que eu ando inventando pro meu filho, em comparação às contadas no conto e às que os meus pais me contavam.

A melhor crônica do blgo até agora!

O resto é silêncio!

Anônimo disse...

"Revolução" constante essa...

Para mim catarse total!