Um sábado sozinho em casa, sem esposa, e não resisti. Nós, homens, somos uns fracos mesmo. Reconheço.
O lugar estava funcionando. Entrei sem cerimônia. A porta estava aberta. A foto de uma mulher nua na frente.
Recebi uma saudação nada efusiva. Algo como um “e”, dito sem por um rapaz que nem olhou na minha cara.
Eu já sabia onde estava o que queria. Fui direto.
Terceira estante. A seção dos pornôs nacionais.
Virava compulsivamente as caixinhas dos DVDs.
Cada capa de filme que olhava, quase de relance de tão rápido, me fazia lembrar a aventura que era, na minha época de adolescente, para ver uma mísera bunda em uma Playboy na banca. Que diferença!
Lembro da primeira revista de mulher pelada (como se dizia na época) que comprei na vida.
Levei quase um mês pra conseguir. Ia à banca todas as manhãs para estudar como faria para concretizar meu plano.
Analisava tudo: qual era o horário de menor movimento, se tinha algum conhecido dos meus pais que costumavam passar por ali, o que exatamente eu deveria dizer à dona da banca e, principalmente, qual o horário em que ela almoçava e seu filho assumia o posto.
Resolvi que, por questões de segurança, faria isso em outro bairro. Tratei de me disfarçar com um boné e mudar a voz. Enchi o peito, deixei o troco de pão dos últimos 15 dias e, finalmente, pude sair correndo com a Playboy da (pasmem!) Alexia Dechampis. Se você não lembra quem é, joga no Google.
Cada um tem a Playboy que merece.
A Alexia (como eu a chamava na intimidade) inaugurou uma coleção que chegou a ter mais de 20 edições e que foi vendida pelo equivalente a um corte de cabelo, cinco anos depois, na época das vacas magras.
Lembro que o máximo que eu conseguia em vídeo, era gravar, escondido, trechos do Cine Privé e da Sexta Sexy, que passavam na TV Bandeirantes. Gravava com a TV desligada e via na segunda-feira, antes de ir pra escola. Que diferença!
Agora, cá estou eu, na dúvida se levo somente dois filmes ou se aproveito a promoção “pague três e leve quatro e só devolva na terça”. E ainda posso fazer cópias no meu computador. Quantas quiser. Para ver quando quiser.
Eu com 13, 14 anos, estaria orgulhoso se me visse hoje, no auge dos 30 com o mundo pornô nas mãos.
Escolho os títulos e levo para o atendente. O mesmo rapaz que nem olhou na minha cara quando entrei.
Ele pega o nome dos filmes, vai atrás do balcão, encontra os DVDs e, antes de colocar na caixinha, lê o título, vê a foto da capinha e, finalmente, olha pra minha cara. Solta uma risadinha e um “Aêêêê!”, que chama atenção de todos da locadora. Fico vermelho.
Tem coisas que não mudam.
Abaixo a cabeça e sinto falta daquele boné que me acompanhou na compra da Playboy da Alexia. Por via das dúvidas, decido que, da próxima vez, por questões de segurança, vou escolher uma locadora em outro bairro.
7 comentários:
Um dia o Maykon vai descobrir o torrent. Peer 2 Peer, o boné do século 21.
Nessas horas sempre acho que vou escutar: "ei, mocinha, mostre o seu RG" - não que eu alugue esse tipo de filme, longe de mim - o problema é que já faz uns dez anos que não me pedem a identidade. Fico deprimida...
Maykon, lendo sua crônica lembrei de meus primeiros contatos com a indústria pornográfica. A diferença é que eu assistia escondido aos filmes que eram de meu pai e que viraram presente em lote para meu primo/vizinho. Ainda sinto saudades de algumas produções que nunca mais consegui achar na era do DVD e em muito superiores aos "fuck in time" produzidos hoje. Caramba, e pensar que ainda assistimos pronografia. Somos uns tarados!!!
Benito Vasques.
Cine Privé e Sexta Sexy, grandes lembranças! Não que eu ficasse assistindo, claro! Ótimo como sempre,Sr. Maykon.
Janaína
Excelente!! Já vivi aventuras parecidas, com outras Playboys (acho que a minha primeira foi da Lídia Brondi, que era do mesmo calibre da Alexia no quesito popularidade), e táticas parecidas de se comprar e tal.
Em tempo, a Carol e a Janaína enriqueceram a qualidade humorística do tópico com essa conversinha de "não que eu tenha comprado isso alguma vez, claro que não..." que elas ensaiaram. Aliás, saiu certinho :)
Essa história me levou de volta pra infância. Consegui ver toda a cena, repleta de detalhes. Só não consigo imaginar ainda o Maykon de boné.
Abraços
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