Instalaram um telefone fixo aqui em casa. Ligamos, pedimos, e duas semanas depois, estava tudo resolvido. Seria mais rápido, se o atendimento fosse melhor e mais eficiente.
Mas, mesmo com os “estarei verificando” e “estaremos instalando” das dezenas de atendentes que estiveram cruzando o nosso caminho, a coisa foi bem mais simples do que na época do meu primeiro telefone fixo, no final da década de 80. Eu devia ter uns cinco, seis anos. Lembro da emoção da minha mãe.
Depois de enfrentar um disputadíssimo plano de expansão da Telesp, que concedia a pouquíssimos felizardos o benefício de ter um telefone em casa, o sonho dela se realizaria.
Custaria uma fortuna. Não sei ao certo, mas imagino que, se fosse hoje, esse felizardo deixaria mais ou menos uns cinco mil reais nos cofres da Telesp para ostentar o aparelho no canto mais nobre da casa.
Era tão caro e difícil ter uma linha que muita gente investia nisso. Comprava várias e alugava. Dá pra imaginar isso? Você, aí com seu celular com dois, três ou mais chips, seu IPhone, lembra ou, se é mais novo, consegue imaginar uma firma (firma!) que alugava linhas telefônicas? Pois, existia.
Lembro do dia em que os técnicos da Telesp chegaram em casa para instalar o aparelho. Vermelho, de disco. Quem tem menos de 20 anos, talvez não consiga entender como era um aparelho de disco.
Aquele negócio redondo no lugar das teclas. Você tinha que colocar força no dedo e girar até o fim. Ninguém gostava de ligar pra um número cheio de noves. Terrível. O pulso doía. Sorte das operadoras de telemarketing, que não existiam naquela época.
Quando os técnicos se foram, ficamos lá, eu e minha irmã, encarando o novo membro da família, sem saber ao certo o que deveríamos fazer.
Fomos procurar o número do trabalho da minha mãe para anunciar a boa nova e interrompemos nossas buscas quando, como num passe de mágicas, ouvimos um “triiiiiiim” escandaloso.
Acho que foi a primeira vez que ouvi esse toque. Ansiedade... Na qualidade de irmã mais velha, ela atendeu.
“ALÔ...”, talvez esperando alguma amiga, o namorado...
Mas, foi murchando até que ouvi ela dizer: “não é daqui, não, moço. É engano”. Nossa primeira decepção telefônica.
Na época, ouvi algumas recomendações. Ganhei uma agendinha de bolso para anotar o número dos coleguinhas da escola e aprendi que nunca, jamais, em hipótese alguma, deveríamos dar nossos nomes enquanto não sabíamos quem estava do outro lado da linha.
Se alguém viesse com um invasivo “quem fala?” perguntaríamos ao nosso interlocutor: “deseja falar com quem?”.
Hoje, vinte anos depois, mesmo com tanta tecnologia, tantos celulares, ainda penso “agora sim, isso é uma casa de verdade”, ao terminar a instalação do fixo.
Preto. Teclas no lugar do disco. Sem fio.
O maior entre seis aparelhos colocados sobre a mesa da sala. Cinco celulares pequeninos e ele, o patinho feio. Sem contar a infinidade de chips, cada um com seu número, que andam espalhados pela casa, ávidos por aproveitar a próxima promoção das operadoras.
Acho que essa geração dos 30 anos (ainda assim, somente alguns de seus representantes, como eu) é a última que ainda sente alguma segurança com o telefone fixo.
Hoje, vinte anos depois, mesmo com tanta tecnologia, tantos celulares, senti a mesma ansiedade que tive quando encarava o telefone vermelho com a minha irmã, no final dos anos 80.
Agora, deixo-o estrategicamente ao lado do computador. Não vejo a hora de ouvir seu bom e velho “Triiiiiiiiim” para dizer: “Alô... Deseja falar com quem?”. Torcendo para não ser nenhuma operadora de telemarketing e, principalmente, não ser engano.
5 comentários:
Lembro que meu pai trocou um telefone por um carro na época. E eu ainda achava graça em fazer trotes, tipo ligar pro açougue e perguntar se o cara tem pé de porco. Abraço.
Não faço parte da geração dos 30. Até durmo com o celular ao meu lado, mas também não abro mão do bom e velho telefone fixo.
Beijão
Minha tia tinha um daqueles grandões desse modelo de girar. O telefone era branco com dourado, fazia TRIMMM e eu achava aquilo o máximo, um sonho de consumo! Em casa tínhamos um mais simples, na cor creme. Nossa, tempos em que para falar ao orelhão precisávamos daquelas fichinhas tipo moeda. Ah, era muito bom ser criança naquela época...
Entre bips de Nextel, saudade de cansar os dedos no disco do velho fixo...
Cadê você, rapaz? Não compartilha mais as amenidades com os amigos?
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