Compramos um peixe, há mais ou menos três meses. Vermelho. Eu que escolhi, acho que porque parecia com o Nemo, do filme.
Acredito que o peixe seja um estágio que antecede a fase do cachorro. Os recém-casados obedecem a essas fases: lua de mel – cachorro – filhos.
No nosso caso: lua de mel, peixe e, daqui a um tempo, cachorro... Ainda não pensamos em filhos. Pelo menos, não concretamente ou não ‘pra agora’, como se diz.
Mesmo sabendo que o peixe não pula, late, senta, pega o brinquedo ou diz papai e mamãe, nos apegamos ao constante abrir e fechar da boquinha dele.
Primeira madrugada do ano, a surpresa: a bomba de ar parou! Não sei por quanto tempo. O peixe estava lá, jogado sob uma concha no fundo do aquário. Morrer, não tinha morrido. Quando isso acontece, bóiam de barriga pra cima.
Balancei o aquário e ele abriu e fechou a boca. Entendi algo como “me ajuda”. Tive peixe quando garoto e lembro que assoprar a água do aquário com um canudo oxigena o bichinho. Foi o que fiz. Depois, segui, sem sucesso, em busca de uma bomba nova.
Primeiro de janeiro. Tudo fechado.
A única saída era assoprar o aquário até o dia seguinte. Foi o que fizemos. Armamos uma operação de guerra.
Festas de final de ano, casa cheia. Estávamos dormindo no apartamento da minha mãe, do outro lado da rua.
A operação consistia em levar o aquário conosco para que nos revezássemos até a manhã seguinte.
Quem nos visse carregando um aquário e assoprando um canudo em plena avenida principal da cidade, à meia-noite e pouco, acharia a cena um tanto inusitada.
Acomodamos o aquário ao lado da cama, quase como um berço, e nos revezamos.
Dávamos uma série de dez assopros e umas remexidas na água a cada uma hora. Logo, cada um conseguia dormir, no máximo, duas horas e lá vinha o alarme do celular.
Regra básica: não valia apertar o soneca.
Acorda, assopra dez vezes, remexe a água e dorme duas horas.
Acorda, assopra dez vezes, remexe a água e dorme duas horas.
E por aí vai.
Até sonhei com temas marinhos. A cada duas horas, Nemo, Pequena Sereia e Free Willy apareciam juntos, me perseguiam, assopravam o oceano e me derrubavam da cama.
Manhã do dia 2, levantamos cedo (pra um sábado). Corremos no pet shop mais próximo e voltamos com uma bomba novinha em folha.
Mas, lá estava ele, boiando com a barriga pra cima. O que teria acontecido? Teria alguém burlado as regras, apertado o soneca e deixado de assoprar a água? Seria ultrapassada a técnica do assopro? Teria ele se suicidado?
A constatação: tão preocupados em assoprar a água, esquecemos de dar a comida.
O episódio nos fez tomar uma importante decisão: vamos ficar na fase do peixinho mais alguns meses. Anos, talvez. É mais aconselhável. Para nós, para cachorros e crianças.
PS.: Os três últimos parágrafos não passam de ficção. O peixe passa bem e tenta se recuperar do trauma. Mas, é que se eu falasse a verdade, não tinha história essa semana.
5 comentários:
Alguma dessas histórias do blog é verdade?? Jura?!
Ai, Maykon, só você mesmo... rs
Quando vocês resolverem ter filhos, não vão faltar boas histórias para contar.
Beijão
É Maykon! E eu e o Marcos vamos ficar na fase das plantas por um tempinho também: rega, espera, nasce a flor, poda, rega, espera, nasce a flor, poda, troca de vaso...
Já estou em uma fase mais avançada: a do cachorro.
Embora, este fosse fruto de minha vida de solteira.
Ótimo, como sempre!
Quando eu crescer quero escrever igual a você!
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